quinta-feira, 14 de outubro de 2010

O papel dos nossos representantes



Após as eleições, o momento é de refletir sobre o que podemos esperar de nossos novos representantes. Tanto no cenário estadual quanto no federal, é preciso que os eleitos assumam compromisso com os princípios fundamentais da democracia e da vida em sociedade. Retidão de caráter, determinação, intransigência no trato do dinheiro público são valores dos quais os paranaenses não podem abrir mão, antes de qualquer outra coisa.


Se conseguirmos que os nossos votos tenham elegido candidatos com tais qualidades, já teremos avançado de patamar, principalmente se considerarmos que a atual Mesa Diretora da Assembleia Legislativa não foi capaz de oferecer alguma explicação sobre o destino de mais de R$ 100 milhões desviados daquela Casa.


Porém é preciso avançar mais. Nossa representação política nacional ainda é tímida. O crítico Temístocles Linhares já dizia, no início dos anos 50, que “o homem do Paraná não é um cético, nem um decadente, nem um contemplativo, nem um diletante. Ele vive um tempo e uma região em que os deveres e as tarefas são obscuros e humildes”.


Sessenta anos passados e parece que continuamos as nossas tarefas obscuras e humildes. Construímos um estado invejável, líder nacional na produção de grãos, dotado de indústrias alinhadas com o que existe de tecnologicamente mais avançado, crescemos nos índices de desenvolvimento social e humano, mas continuamos a ser pouco ouvidos em nossas pretensões maiores.


Se por um lado hoje o Paraná ocupa cargos de relevância no governo federal, por outro mantemos a dissensão interna, a impedir que nos foquemos no mesmo objetivo. Quando do Ato Público a favor da criação do Tribunal Regional Federal no Paraná, em abril último, vimos irmanadas na sede da OAB Paraná lideranças de todas as instâncias e de todas as colorações políticas. Ressalvando a ação pela extinção da injusta multa no caso Banestado, não lembramos de nenhuma outra ocasião recente em que isso tenha se dado. Não por falta de objetivos a conquistar, mas por flagrante ausência de interesse comum. Temístocles dizia que o paranaense é um herói telúrico, voltado apenas às coisas da terra. Mas todas as nossas pretensões são, em última análise, referentes à própria terra – ou não estamos falando de benefícios para o Paraná?


Trata-se de matéria que exige efeito imediato: é necessário que se passe da função de coadjuvante para a de protagonista das ações no cenário nacional. Não é tarefa fácil, mas dela não podemos nos furtar. Por ser um estado novo, em termos de ocupação geográfica, o Paraná tem sido visto, desde sempre, não mais do que “tábua rasa sob o ponto de vista social, político e intelectual”. São palavras de Bento Munhoz da Rocha Netto, o primeiro paranaense a alçar voo junto à metrópole, como ministro da Agricultura.


Bem sabemos que entre a exigência e a execução existem infinidades de complicações, que vão desde a eventual falta de vontade do poder central em permitir a ascensão do estado até a pretensa capacidade de mútua destruição dos homens públicos paranaenses. Essa última deve ser vista muito mais como produto do folclore político do que como verdade dos fatos. Aqui se critica o adversário da mesma forma que os inimigos se destroem em Pernambuco ou em Santa Catarina. A diferença está em que, nos demais estados, as questões cívicas em torno do bem comum recebem a adesão de todos, estejam ou não do mesmo lado da trincheira política.


Se a diversidade entre nós é permanente, também o é em todos os rincões. A realidade de União da Vitória, por exemplo, é diferente daquela vivida na capital, mas nem por isso os respectivos representantes políticos precisam estar em lados opostos em assuntos que remetem ao avanço humano, econômico e social do estado. Apenas esta união será capaz de nos fazer fortes e preparados para permitir a vida adequada que imaginamos para as próximas gerações.


Urge que ocupemos os espaços, tornando mais forte a representação deste grande Paraná. E que os nossos representantes fiquem unidos quando tratarem dos interesses maiores deste estado.


Alguém será capaz de vislumbrar traços de utopia no conteúdo deste artigo. Reconheçamos que eles existem, mas muito distantes das imaginadas por Thomas More ou, bem antes dele, Platão. A utopia que pregamos é simples: o Paraná acima de todos os interesses, o Paraná em elevado patamar na República, atendendo aos mais legítimos interesses da sociedade.


Artigo escrito por José Lucio Glomb presidente da OAB Paraná.

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